"A cigana leu o meu destino, eu sonhei.
Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante eu
sempre perguntei: o que será o amanhã? "
(Simone)
Aos quinze anos de idade, fui caminhar pela primeira vez na Avenida Paulista somente em companhia de uma amiga. Descemos no metrô Paraíso e seguimos a pé.
Logo na Praça Oswaldo Cruz, percebemos uma feira esotérica
que naquela época (não sei hoje) era fixa no local e as pessoas que por ali
passavam se divertiam muito descobrindo o seu “futuro”.
Minha amiga que era muito “esotérica” mais que depressa
correu para uma cigana que lia as mãos, eu só ria. Não acreditava ”nestas
coisas” e achava um desperdício ela gastar seu dinheiro com tamanha bobeira.
Quando a cigana já havia descoberto todo o “futuro” da minha amiga, ela levantou
para continuarmos nosso passeio, só que a cigana para minha surpresa, se
dirigiu para mim e pediu para ver meu futuro...
Eu relutei, mas para não ser indelicada estiquei a mão e
disse que era só para ela dar uma “olhadinha” que eu não ia me sentar. Ela olhou
minha mão rapidamente, cinco segundos e me disse assim: “mocinha quando você
for adulta, irá cuidar de um tesouro, com muitas pedras preciosas...” eu
agradeci a estranha mensagem e parti.
Eu acabara de me matricular na escola de artes, meu sonho
era ser arquiteta ou artista plástica, pode imaginar minha cara quando ela
falou das tais pedras preciosas... Dei risada né! Nem de joias eu gosto,
pensei... Que tesouro que nada!
Bom... A vida dá muitas voltas e na leveza da adolescência
não desenvolvemos muita noção de futuro, só vivemos.
25
anos depois aqui estou eu, uma mulher de 40 anos e sou
bibliotecária. Acho que no fim das contas, a minha querida cigana tinha
razão,
peço perdão para ela hoje, pela minha total falta de credulidade em suas
palavras, mas ela não podia ter sido mais certeira do que foi comigo
naquele dia,
pois uma Biblioteca realmente é um grande tesouro e os livros
preciosidades, para aqueles que conseguem entender e valorizar toda a
riqueza que
eles guardam.
Eu estudei artes, fui designer gráfica, diagramadora, quando
menos esperava me encontrei dentro da Faculdade de Biblioteconomia e alguns
meses depois percebi que tinha encontrado minha verdadeira vocação.
Amo ser Bibliotecária e amo mais ainda ter uma profissão que
me permite fazer diferença na vida das pessoas.
Ao contrário da maioria da minha sala, eu desde os primeiros
meses já desejava, se um dia conseguisse exercer a profissão, trabalhar em uma
biblioteca pública, o que causava estranheza e contrariedade em todos meus
colegas de classe que afirmavam que eu era “doida”, que era a pior biblioteca
para se trabalhar. Mas...
É a biblioteca mais democrática, mais perto e mais acessível
para aqueles que precisam de informação, conhecimento e cultura. Eu queria ser
bibliotecária das pessoas com mais limitações, nos lugares onde era mais
difícil a disseminação do hábito da leitura, eu queria trabalhar onde ninguém
costuma querer, queria estar perto dos jovens e principalmente das crianças.
Hoje sou muito feliz com minha escolha e bem gosto do tesouro
que Deus me deu para cuidar para ele. É o meu talento que não pretendo enterrar,
mas sim dividir e multiplicar.
Assim seja!