quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Biblioteca do Tatuapé



Hoje está sendo um dia de muito saudosismo para mim, a saudade é tanta que chega a apertar o peito.

Recordo do pai, sentado no muro da Santista lendo enquanto eu andava de velocípede em plena Salim Farah Maluf, o caminhar calmo, segurando a mão da minha mãe todos os dias de manhã, para não chegar desarrumada à escola e à tarde virando cambalhotas na grama. O bar do "seu Antônio", meu amigo Ricardo, o Beco, o casario antigo, minha vó, as árvores e o balanço no nosso quintal...

As lembranças da infância e os acontecimentos que envolviam meu dia-a-dia de criança chegaram tão fortes hoje que chego a ficar com lágrimas nos olhos de recordar coisas que o tempo levou e nunca mais voltarão..

A Avenida que por tantas vezes atravessei e na qual olhava de um lado para o outro do portão para ver “se meu pai estava na esquina”. É, quando eu começa a perturbar muito, ele me mandava ver se ele “estava na esquina” e eu que morava numa rua particular, lá no fundo, saia correndo igual tonta, para ir até o portão “verificar onde meu pai estava...E o pior, voltava e dizia para ele: “Não está não pai!”.

Estudei o todo pré na Emei Mary Buarque e quando minha mãe demorava a vir me buscar (nós ficávamos sentados na entrada da escolinha, aguardando nossas mães) eu fugia do pátio e corria para a biblioteca que tinha uma entrada lateral por dentro da escolinha. Minha mãe até sabia, se não me via no pátio, era porque tinha escapado da fila e estava na biblioteca...

Tinha uma salinha de leitura com estantes baixas e livros sem ordenação que podiam ser lidos livremente, para mim era o máximo... Adorava ver os livros, só olhava, porque ainda não sabia ler.

Esta biblioteca para mim era mágica, tinha um hall e nele várias portas que davam para inúmeras salas, aconteciam atividades. O chão era de madeira brilhosa, tudo tão lindo e organizado e o melhor: eu tinha um cartão de empréstimo de livros! Me sentia o máximo! 

Depois fui para a Escola Arthur Azevedo ao lado, estudei nesta só um ano, mas tenho tantas recordações.

Da professora Cecília, das escadarias da escola que descíamos de bumbum, do pátio onde todos alunos reunidos em filas cantavam antes de entrar na aula o hino nacional. Usávamos um uniforme bonito: saia de pregas, camisa branca, sapatos de fivela e meias até os joelhos. Era engraçado... 

Foi nesta escola que aprendi  a ler e quando passei de ano ganhei da minha professora meu primeiro livro, cheio de letras: o Caranguejo Bola, com capa dura cor de rosa e algumas ilustrações. Infelizmente o perdi, uma lástima isso... Adoraria ter esta recordação da professora que me ensinou a ler.  

Acho que foi pelo exemplo do meu pai e esta biblioteca tão maravilhosa pertinho da minha casa que adquiri o gosto pela leitura, todo bairro deveria ter pelo menos uma sala de leitura para as crianças frequentarem, com certeza isso faria muita diferença na vida de muitas... E olha que no meu tempo os livros nem eram assim tão lindos como os de hoje, cheios de ilustrações maravilhosas e histórias bem escritas, mesmo assim para mim aquela época foi um marco decisivo em minha vida.

Não me canso de dizer o quanto sou feliz por ser bibliotecária, o quanto sou feliz por gostar de livros, de ler... Só tenho a agradecer.

Gostaria muito de poder ir um dia novamente à esta Biblioteca no Tatuapé, descobrir se ainda tenho cadastro lá (risos). 

Seria muito bom, matar esta saudade, mas enquanto esse dia não chega... Agradeço e abençoo este lugar que tanto alegrou minha infância: a Biblioteca Pública do Tatuapé, hoje Prof. Arnaldo Magalhães Giácomo.