quinta-feira, 5 de março de 2015

A cigana e a mocinha guardiã do tesouro

"A cigana leu o meu destino, eu sonhei. 
Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante eu 
sempre perguntei: o que será o amanhã? "
(Simone)


Aos quinze anos de idade, fui caminhar pela primeira vez na Avenida Paulista somente em companhia de uma amiga. Descemos no metrô Paraíso e seguimos a pé.

Logo na Praça Oswaldo Cruz, percebemos uma feira esotérica que naquela época (não sei hoje) era fixa no local e as pessoas que por ali passavam se divertiam muito descobrindo o seu “futuro”.

Minha amiga que era muito “esotérica” mais que depressa correu para uma cigana que lia as mãos, eu só ria. Não acreditava ”nestas coisas” e achava um desperdício ela gastar seu dinheiro com tamanha bobeira. Quando a cigana já havia descoberto todo o “futuro” da minha amiga, ela levantou para continuarmos nosso passeio, só que a cigana para minha surpresa, se dirigiu para mim e pediu para ver meu futuro...

Eu relutei, mas para não ser indelicada estiquei a mão e disse que era só para ela dar uma “olhadinha” que eu não ia me sentar. Ela olhou minha mão rapidamente, cinco segundos e me disse assim: “mocinha quando você for adulta, irá cuidar de um tesouro, com muitas pedras preciosas...” eu agradeci a estranha mensagem e parti.

Eu acabara de me matricular na escola de artes, meu sonho era ser arquiteta ou artista plástica, pode imaginar minha cara quando ela falou das tais pedras preciosas... Dei risada né! Nem de joias eu gosto, pensei... Que tesouro que nada!

Bom... A vida dá muitas voltas e na leveza da adolescência não desenvolvemos muita noção de futuro, só vivemos.

25 anos depois aqui estou eu, uma mulher de 40 anos e sou bibliotecária. Acho que no fim das contas, a minha querida cigana tinha razão, peço perdão para ela hoje, pela minha total falta de credulidade em suas palavras, mas ela não podia ter sido mais certeira do que foi comigo naquele dia, pois uma Biblioteca realmente é um grande tesouro e os livros preciosidades, para aqueles que conseguem entender e valorizar toda a riqueza que eles guardam.

Eu estudei artes, fui designer gráfica, diagramadora, quando menos esperava me encontrei dentro da Faculdade de Biblioteconomia e alguns meses depois percebi que tinha encontrado minha verdadeira vocação.

Amo ser Bibliotecária e amo mais ainda ter uma profissão que me permite fazer diferença na vida das pessoas.

Ao contrário da maioria da minha sala, eu desde os primeiros meses já desejava, se um dia conseguisse exercer a profissão, trabalhar em uma biblioteca pública, o que causava estranheza e contrariedade em todos meus colegas de classe que afirmavam que eu era “doida”, que era a pior biblioteca para se trabalhar. Mas...

É a biblioteca mais democrática, mais perto e mais acessível para aqueles que precisam de informação, conhecimento e cultura. Eu queria ser bibliotecária das pessoas com mais limitações, nos lugares onde era mais difícil a disseminação do hábito da leitura, eu queria trabalhar onde ninguém costuma querer, queria estar perto dos jovens e principalmente das crianças.

Hoje sou muito feliz com minha escolha e bem gosto do tesouro que Deus me deu para cuidar para ele. É o meu talento que não pretendo enterrar, mas sim dividir e multiplicar.

 Assim seja!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

PARA UM MENINO, COM TODO MEU AMOR....

Tenho visto muitos posts no face comentando o ocorrido com o garoto que perdeu seu braço. Não sei se tenho este direito, mas senti vontade de escrever, venho pensado muito no que aconteceu, tenho filhos e não consigo nem imaginar o tamanho da dor que eles devem estar sentido...


As pessoas, falam, comentam, julgam, condenam sem saber direito o que estão falando, as informações vão surgindo como em uma cascata, mas sabemos que numa situação como esta, todos veem tudo enquanto é coisa, se aumenta, se inventa, acrescenta e se não estávamos lá para ver todos acontecimentos com nossos próprios olhos, como podemos tirar conclusões e fazer afirmações?

Eu já soube de tantas coisas difíceis que aconteceram com crianças, acidentes domésticos, acidentes escolares nos quais crianças foram machucadas, adultos passaram aperto, os pais susto, medo, coisas horríveis que aconteceram em piscar de olhos...

Há uns tempos houve a história de uma garotinha picada por uma cobra que ficou em coma e quase morreu, os pais a abandonaram para ser picada? Uma vez uma pessoa muito querida minha, deixou cair de cima da mesa um bebê pequeno com o moisés e tudo, caiu de cara no chão...

Ela quase morreu de susto, a criança bateu com força seu corpinho, chorou muito, poderia ter sido grave, mas graças a Deus os anjos protegeram e não aconteceu nada de maior gravidade... Essa pessoa foi negligente? E as crianças esquecidas dentro de carros? De quantas já ouvimos falar? Seus pais as esqueceram... Por que as amavam pouco? Não eram responsáveis? É fácil tirar conclusões, mas não deve ser nada fácil SER ELES.

Tenho um amigo que adorava, lembro-me dele dirigindo aos 13 anos, eu mesma andei de carona com ele ao volante, menor de idade e sem carteira de motorista... Seus pais permitiam e eu os conheci, convivi com eles... Eram pessoas maravilhosas, o amavam com loucura. Ele era um jovem impetuoso, bonito e cheio de vida, mas não tinha medo! Três meses após tirar sua habilitação morreu em um acidente. Numa história assim poderíamos facilmente dizer que os pais foram negligentes e que a culpa maior foi deles, não educaram! Mas será mesmo que foi? Eu não consigo pensar assim...

Não quero com meus escritos defender negligências, tão pouco minimizar a responsabilidade de quem estava a volta e também viu o que acontecia e não agiu como a situação pedia... Tem momentos em que parece que somos dopados, anestesiados... São os famosos "5 segundos de bobeira"...

Eu falo por mim, que me empenho 24 horas por dia para educar meus filhos e nem sempre consigo obter os resultados necessários, que sonho ou desejo! Isso não ocorre porque não me esforço, não faço minha parte ou não tenho responsabilidade e cuidado com eles, mas sim porque somos todos HUMANOS, cheios de DEFEITOS e as crianças de hoje não são mais como as de antigamente que só um olhar nos transformava em estátuas de sal... Hoje há dias em que você explica, fala, pede e mesmo assim o filho teima, teima e teima!

São tempos muito difíceis estes que vivemos e nós que temos um pé em um século passado e a vida em outro, muitas vezes nos encontramos perdidos em redemoinhos como este que aconteceu na vida deste pai.

O que quero dizer é que infelizmente este tipo de situação pode acontecer COM QUALQUER UM e nem sempre é porque as pessoas são irresponsáveis ou não cuidaram o suficiente do ente querido, ou foram inconsequentes, mas sim porque são situações que fazem parte do nosso destino, da nossa vida, não é questão de livre arbítrio, falta de comprometimento e responsabilidade, mas sim daquilo que temos traçado em nossa caminhada.

Às vezes são nas situações de extrema desgraça e infelicidade que o ser humano se transforma e muitas vezes a vida tem mostrado que a transformações mesmo que assustadoras, também vem para o bem, para o aprendizado para a evolução... O ser humano tende a se acomodar na zona de conforto e se acomodando não cresce, não aprende, não evolui, estagna.

Achei muito bonito da parte de uma mãe em uma reportagem que assisti em que contavam o acidente em que ela teve as duas pernas amputadas e ela lutava para superar as dificuldades e se recuperar, ao ser perguntada se não estava triste por ter perdido as pernas e não poder mais andar normalmente, ela respondeu: que perna, que nada! Eu estou feliz por estar viva e poder continuar junto dos meus filhos, da minha família!

Eu tive um amigo que teve paralisia infantil. Ele tinha inúmeros irmãos, moravam no Amazonas acho... Me contou que devido a quantidade de filhos eles acreditam que a mãe se atrapalhou e um dos irmãos tomou uma dose de vacina a mais e ele uma a menos... Acabou tendo pólio e teve a vida completamente mudada. Sua doença fez os pais se mobilizarem, saírem do meio do mato onde moravam e vieram para São Paulo em busca de melhores condições para ele viver. Com isso toda família mudou seu destino. Acho que talvez ele não pensasse desta forma, mas quando ele me contou sua história eu pensei: talvez... Talvez... Se nada tivesse acontecido com ele, a família toda teria ficado a vida inteira no fim do mundo e sabe-se lá o que poderia ter acontecido, pois muito progresso na vida deles, foi decorrente da doença do meu amigo que obrigou a família a migrar para uma cidade com condições melhores.

Ninguém que tem amor no coração, que é pai, mãe, quer o sofrimento de um filho! Ninguém quer! Queremos só amar, desejamos só o bem para nossos filhos. Muitas vezes na ânsia fazê-los felizes damos asas demais, outras vezes, por medo do que pode acontecer, impedimos seu voo, ceifando suas asas...

Atire a PRIMEIRA PEDRA, os que têm ou não filhos e têm certeza que nunca erraram e que nunca vão errar... Vão fazer sempre tudo certo e seus filhos serão perfeitos e educados.

A mim me dou somente o direito de orar e vibrar esperança e fé pelo amigo, pelo seu filho e sua mãe, espero que consigam superar a dor, espero que consigam transformar esta provação em suas vidas em algo extraordinário, em algo que veio não só para trazer tristezas e dor, mas sim em algo que aconteceu para abrir novos caminhos, novas possibilidades e novos horizontes e que não percam nunca o amor, a fé e a coragem que precisamos para prosseguir.

quarta-feira, 12 de março de 2014

12 de março: dia do Bibliotecário e da Biblioteca nossa de cada dia


            Sou Bibliotecária há dez anos destes, oito atuo em Biblioteca Pública. Desde a faculdade era o que desejava, porque tinha consciência da importância que este tipo de biblioteca tem para a comunidade onde está inserida. Sempre leio sobre a necessidade de modernização e ampliação do número de Bibliotecas Públicas no Brasil e estas questões me fazem pensar... 

Antes de chegar aqui, não tinha experiência alguma e o pouco que recebi foram informações muito negativas vindas de colegas que já atuavam nestas unidades e também dos próprios professores. Na época que estudei, a faculdade não dava muito ênfase aos conteúdos voltados para profissionais atuarem em Bibliotecas Públicas.

Mesmo assim meu ideal profissional prevaleceu e quis dar minha contribuição. Hoje após todos estes anos percebo que na realidade o problema não é a Biblioteca Pública em si, mas sim as pessoas ou setores que as conduzem dentro do sistema administrativo em que ela está inserida, o que quero dizer com isso? Que trabalhar em Biblioteca Pública pode ser sim muito bom! Na verdade precisamos de dois fatores somente para ter sucesso, muito simples, mas muito difíceis de alcançar: apoio e respeito.

Vejo que o poder público principalmente nas pequenas cidades (que são a maioria) não valoriza a Biblioteca Pública e faz muito pouco ou nada, para criar condições propicias que incentive o hábito da leitura na população. Não fosse o trabalho realizado pelas escolas e professoras aqui, por exemplo, se dependesse só da Biblioteca Pública haveria um cemitério de leitores.

Pelas experiências que vivi nos últimos anos e que acredito, sejam bem parecidas na maioria dos municípios brasileiros, penso que a única forma de tornar a Biblioteca Pública um setor realmente produtivo e relevante é dar autonomia legal para que ela desempenhe seu papel junto à sociedade. Tirar das mãos dos políticos e das prefeituras e dar para associações, grupos de pessoas interessadas juntamente com profissionais formados em biblioteconomia a autonomia para trabalhar, planejar e agir de acordo com demanda existente.

Criar leis que obriguem a destinação de verbas anuais de acordo com o tamanho da população e fazer com que os profissionais que atuam nestas bibliotecas simplesmente prestem contas exatas dos recursos utilizados e resultados alcançados. E assim, oferecer serviços informacionais de qualidade e realizar as atividades necessárias, sem estar constantemente “mãos estendidas” implorando.

No geral a rotina das Bibliotecas Públicas inclui: não ter verba oficial, não receber apoio para executar melhorias estruturais e físicas, não ter incentivo para projetos, não comprar livros, o que sempre existe são alguns poucos funcionários para atender os frequentadores e organizar o ambiente. Livros novos são poucos e quando são comprados, é com dinheiro de multas.

Sou Bibliotecária formada, concursada e atuo em uma Biblioteca Pública onde não tenho autonomia para fazer nada, não tenho direito a opinar, não sou ouvida, não sou consultada e fazem o que querem da Biblioteca Municipal, tenho de ver e ouvir passivamente tudo que decidem fazer sem poder intervir ou, evitar que falhas graves sejam cometidas.

Enquanto as Bibliotecas Públicas viverem sob o poder das administrações de visão restrita e limitada a interesses políticos, não haverá possibilidade de mudança da realidade em que elas estão inseridas e como sempre, o maior prejuízo fica para a sociedade. Não sei se a criação de leis que obriguem as prefeituras apoiarem, talvez tornar todas as Bibliotecas Públicas legalmente constituídas em órgãos federais, não sei se propiciar autonomia e ação de trabalho para os Bibliotecários pode mudar isso, mas o fato é que enquanto as Bibliotecas estiverem a mercê de política e administrações públicas, elas dificilmente sairão desta escuridão em que se encontram.

Só um exemplo: está para ser desativado onde trabalho um software de primeira linha, que conse­gui­mos com muito empenho adquirir e é de propriedade da Biblioteca. A informatização do acervo este ano entrou em fase final, pois há quatro anos trabalhamos com este sistema que é excelente e atende com eficiência as necessidades da biblioteca, dos leitores, mas enfim vai ser substituído.

Será desativado, por motivações externas que envolvem, além de outros fatores, o gasto de R$ 190,00 por mês que a prefeitura acredita ser desnecessário, haja vista que a atual empresa que ganhou a licitação possui um “módulo” para bibliotecas que pode ser utilizado ou seja, não há preocupação com o tra­balho executado até este ano, com o fato do novo software ser inferior, com os gastos feitos até o momento para o atual sistema funcionar (suporte e todo material utilizado nestes quatro anos), não há preocupação se haverá qualidade realmente nos serviços prestados. Com afirmações pouco consistentes, tentam nos convencer de uma mudança que não tem como ser positiva nem para a Biblioteca, tão pouco para os leitores.

Conclusão, de volta ao início: se o poder público deseja qualificar as Bibliotecas Públicas, criar novas, aumentar seus resultados e criar políticas de leitura, em primeiro lugar precisa fazer com que as Bibliotecas Públicas tenham seu valor, seus direitos reconhecidos e respeitados porque modernizar e multiplicar bi­bliotecas, formar profissionais para atuarem de forma eficiente e correta, mas que em seus ambien­tes de trabalho são obrigados a fazer e aceitar tudo que é errado, não nos ajuda em nada, só perpetra a situa­ção atual em que trabalhamos: à base de milagres e orações.

Sem apoio real, concreto e relevante, nada mudará. Espero com minhas palavras estar contribuindo de alguma forma e que o pequeno ponto de luz que eu teimo em manter acesso, apesar de todas as adversidades, possa se unir a vários outros e, fortes, ilu­minarmos a vida daqueles que precisam da luz do conhecimento. 


Sandra Küster, Bibliotecária por vocação há 10 anos



segunda-feira, 10 de junho de 2013

Para meus amigos e amigas, com todo meu amor!

Estava assistindo a um vídeo sobre os cinco maiores arrependimentos que as pessoas têm antes de morrer. O quarto é "gostaria de ter mantido contato com meus amigos". Isso tocou fundo em meu coração...

Pois é, a reviravolta drástica que fiz há alguns anos quando mudei de vida, mudei de cidade emprego, entre outras coisas, me fez enxergar tantos detalhes que antes passavam desapercebidos ...

Eu vivi tantos anos em São Paulo e antes mesmo de me mudar, deixei tantas pessoas perdidas para trás, quando eu ainda estava lá, tão perto. Então me pergunto: por quê será que estas coisas acontecem? Meio estranho pensar nisso...

Minha cabeça vive povoada de recordações e as pessoas vão voando pela minha mente num tumulto enorme de sentimentos, tristezas, alegrias, elas vem e vão, trazendo cada uma sua história, minha história, nossa história.

São tantos amigos, é tanta vida que eu me pergunto: Como cabem tantas vidas em mim? Com tantas pessoas caminhei, aprendi, vivi, sorri, briguei, quanto caminhei.

Na infância as crianças da minha rua, aquelas com as quais cresci, me misturei, nos misturamos em nossas famílias, cada um na sua casa, todos juntos na mesma história, na mesma brincadeira, no mesmo futuro infinito. Éramos todos tão pequenos, tão pouco sabíamos do que ia nos acontecer, da distância que um dia teríamos uns dos outros, o quanto seríamos estranhos, é uma pena... Uma pena viver sem saber que um dia estaríamos tão longe e haveria tanta saudade.

Na juventude, aquela loucura do viver! De viver tudo, a todo instante, a cada minuto, o tempo todo, sem pensar, sem preocupar, só viver. São tantos risos e tantas lágrimas, crescer dói. Aprendemos juntos, que a morte e vida andavam muito perto. Sofremos, crescemos, vivemos.

Tive amigos e amigas tão especiais, tive tanta sorte nesta vida... 

Às vezes, já disse isso antes... Só algumas vezes, me esqueço de quem sou, fico brava, brigo com Ele, faço cara feia, choro de raiva. Quero mais, acho tudo pouco. Quanta ingratidão.

Estudei numa escola privilegiada, repleta de pessoas criativas, cheias de vida e energia, que não se conformavam com a vida comum, estudavam e davam cores ao mundo. Artistas.

Fiz tantos amigos nos lugares que trabalhei, conheci tantas coisas por eles, pelas mãos e pelos carinhos deles, vivi tanto, sonhei tanto, sorri tanto. Tanto do que sou hoje, devo a tantas pessoas que passaram pela minha vida, tão sutilmente, tão delicadamente que eu nem percebi... E se foram, mas deixaram um pouco deles em mim.

Sendo assim, como posso reclamar eu da vida? Me sinto tão rica em momentos como este, que consigo me despir de mim mesma e passo em palavras o que tenho em meu coração.

Quantas pessoas que vivem neste mundo, nascem já sozinhas, vivem suas dores sozinhas e muitas vão morrer  também sozinhas.
  
Eu não... Eu tive muitos amigos!

Com eles cresci, com eles vivi, com eles parti em busca dos sonhos. Quisera eu ser recordada por algum deles, em algum momento bom, me sentiria mais repleta ainda. Então deixo aqui esta  frase, muito linda, que descreve bem meu sentimento hoje, para todos vocês: 

“a felicidade aparece para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam em sua vida.”

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Bibliotecária e a estrada de terra


“Quem acende uma luz é o primeiro a ser iluminado”


  Este ano atuei por três meses, na zona rural de Venda Nova, na localidade do Caxixe, com esta experiência me dei conta do quão importante e necessária pode ser nossa atuação como profissionais da informação e da leitura.
  Confesso que não tem sido fácil o caminho escolhido. Trabalhar em bibliotecas públicas no Brasil muitas vezes é sinônimo de “grandes dificuldades”. Nosso país apesar de já ter dado passos largos nos últimos anos em prol da educação e da formação de leitores, infelizmente não alcançou o patamar desejado e ainda há muito trabalho a fazer.
  Do ônibus que me levou para o trabalho, observava paisagens e ao mesmo tempo, as crianças e professoras. Elas, guerreiras corajosas e cheias de garra, educadoras com um longo caminho a percorrer em estrada de terra onde o ônibus as sacudia junto com alunos sorridentes e barulhentos já sonhando com as primeiras letrinhas escritas. 
  É muito gratificante ver que apesar de todas as dificuldades, muitos têm a coragem e o calor na alma que impulsiona para o futuro melhor, pois estudando, dominando a leitura e a escrita terão oportunidades melhores. Dizem que o brasileiro “não gosta de ler”, mas eu me pergunto sinceramente: o brasileiro não gosta de ler ou, o brasileiro não teve durante décadas e décadas acesso democrático aos livros?
  O bibliotecário tem um importante papel a desempenhar como “agente de transformação”, mas infelizmente a sociedade além de não reconhecer este profissional, também desconhece seus talentos, sendo comum comentários do tipo: Precisamos realmente de um Bibliotecário? Para quê ele serve? Nossa! Existe curso superior de Biblioteconomia?
  O antigo mito do “Bibliotecário mal humorado, guardião dos livros” ainda resiste em muitos lugares do Brasil e faz com que se tenha uma idéia deturpada da realidade que é a do profissional atualizado, pró-ativo, eficiente e engajado no processo da construção de uma nação leitora.
  A sociedade precisa se conscientizar da importância das bibliotecas no processo de ensino e os benefícios que oferece para os que buscam nela o conhecimento. Os profissionais precisam se reciclar, mudar sua postura, repensar suas práticas, se tornarem mais humanos, pró-ativos e menos tecnicistas.
  Na era digital é preciso que a informação seja encontrada com precisão e eficiência, avaliada e disseminada para os que precisam e assim, absorvida e compreendida, se tornar conhecimento. Este é o caminho traçado com qualidade e eficiência e só assim, haverá progresso e evolução, porque informação compreendida e disseminada é poder adquirido.
  Informação estagnada, apertada em prateleiras de estantes, onde o público não é cativado e incentivado para consultar não serve para nada. Somado a isso se o profissional também não tem carisma e amor pelo que faz, a única coisa que se conseguirá transmitir é o vazio da ignorância.
  O conhecimento que vem pelo domínio da leitura é uma arma poderosa e invencível, contra o analfabetismo, contra a ignorância, contra a falta de perspectivas e principalmente contra a falta de esperança num futuro melhor, mais digno. 
  O professor que lê, será um bom formador de leitores, pais que leem formam filhos leitores, um governante que lê e valoriza a leitura, com certeza está se preocupando com o futuro das suas crianças. Um Bibliotecário que trabalha com o coração e se empenha na busca por uma biblioteca eficiente e ativa está trabalhando em prol do progresso, pois um povo leitor, certamente será mais esclarecido, mais crítico e menos manipulável, consequentemente, mais iluminado.
  A luz que brilha nas mãos dos Bibliotecários, precisa ser mais forte e mais ardente, caso contrário se tornará só uma vela , fraca e sem brilho, no fundo de um túnel escuro e sem volta.

(Texto publicado na Tribuna Livre do Jornal A Tribuna do dia 10/12/2010)

O pão da alma...



Meu pai tem 65 anos...

Na sua dura infância, quase não frequentou a escola, só aprendeu a ler e a escrever.

Isto, porém não fez dele um homem de pedra pelo contrário, ele é etéreo e tudo que sou é graças à ele e toda sua sabedoria, conquistada lendo por conta própria um universo de livros que eu formada, não sei se um dia conseguirei ler...

Eu estava no primeiro ano do "primário" quando um dia ele resolveu construir uma escrivaninha embaixo de uma grande árvore que havia no quintal de casa, me disse assim: é para você estudar...

Quantas tardes eu passei ali naquele agradável recanto de luz e sombra amena. Nas leituras difíceis eu ia sorvendo minhas primeiras vitórias.

Quanto amor brotou deste simples gesto, quantos laços e nós indissolúveis se fizeram nestes momentos em que junto dos livros, aprendíamos também que a vida poderia ser boa e diferente sim, porque os livros lidos com certeza iam tornando-a mais feliz, mais leve e mais completa.

Acho que na verdade ele só queria agradar e tudo que fez por nós toda sua vida, fez por amor. Mas no fundo quem ganhou mais fui eu. Ganhei cada dia mais paixão e amor pelos livros e hoje esta paixão se tornou também minha profissão, sou bibliotecária.

Tenho boas recordações da minha infância simples e feliz em São Paulo, cresci vendo meu pai com livros nas mãos e assim, silenciosamente ele foi me ajudando a traçar meu caminho. Me ensinou que cuidando da vida, mesmo que seja com um gesto simples, um livro lido, o futuro pode ser muito diferente, muito melhor...

Ele cuidou de mim e hoje com meu trabalho, posso cuidar de outras crianças também. A leitura é assim mesmo.. Silenciosa, solitária, mas quanto nos diz, quanto nos ilumina, quanto nos alimenta.

Obrigada pai, pelo pão que também nunca faltou para minha alma.


(Escrevi este texto há 2 anos atrás...)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A Biblioteca do Tatuapé



Hoje está sendo um dia de muito saudosismo para mim, a saudade é tanta que chega a apertar o peito.

Recordo do pai, sentado no muro da Santista lendo enquanto eu andava de velocípede em plena Salim Farah Maluf, o caminhar calmo, segurando a mão da minha mãe todos os dias de manhã, para não chegar desarrumada à escola e à tarde virando cambalhotas na grama. O bar do "seu Antônio", meu amigo Ricardo, o Beco, o casario antigo, minha vó, as árvores e o balanço no nosso quintal...

As lembranças da infância e os acontecimentos que envolviam meu dia-a-dia de criança chegaram tão fortes hoje que chego a ficar com lágrimas nos olhos de recordar coisas que o tempo levou e nunca mais voltarão..

A Avenida que por tantas vezes atravessei e na qual olhava de um lado para o outro do portão para ver “se meu pai estava na esquina”. É, quando eu começa a perturbar muito, ele me mandava ver se ele “estava na esquina” e eu que morava numa rua particular, lá no fundo, saia correndo igual tonta, para ir até o portão “verificar onde meu pai estava...E o pior, voltava e dizia para ele: “Não está não pai!”.

Estudei o todo pré na Emei Mary Buarque e quando minha mãe demorava a vir me buscar (nós ficávamos sentados na entrada da escolinha, aguardando nossas mães) eu fugia do pátio e corria para a biblioteca que tinha uma entrada lateral por dentro da escolinha. Minha mãe até sabia, se não me via no pátio, era porque tinha escapado da fila e estava na biblioteca...

Tinha uma salinha de leitura com estantes baixas e livros sem ordenação que podiam ser lidos livremente, para mim era o máximo... Adorava ver os livros, só olhava, porque ainda não sabia ler.

Esta biblioteca para mim era mágica, tinha um hall e nele várias portas que davam para inúmeras salas, aconteciam atividades. O chão era de madeira brilhosa, tudo tão lindo e organizado e o melhor: eu tinha um cartão de empréstimo de livros! Me sentia o máximo! 

Depois fui para a Escola Arthur Azevedo ao lado, estudei nesta só um ano, mas tenho tantas recordações.

Da professora Cecília, das escadarias da escola que descíamos de bumbum, do pátio onde todos alunos reunidos em filas cantavam antes de entrar na aula o hino nacional. Usávamos um uniforme bonito: saia de pregas, camisa branca, sapatos de fivela e meias até os joelhos. Era engraçado... 

Foi nesta escola que aprendi  a ler e quando passei de ano ganhei da minha professora meu primeiro livro, cheio de letras: o Caranguejo Bola, com capa dura cor de rosa e algumas ilustrações. Infelizmente o perdi, uma lástima isso... Adoraria ter esta recordação da professora que me ensinou a ler.  

Acho que foi pelo exemplo do meu pai e esta biblioteca tão maravilhosa pertinho da minha casa que adquiri o gosto pela leitura, todo bairro deveria ter pelo menos uma sala de leitura para as crianças frequentarem, com certeza isso faria muita diferença na vida de muitas... E olha que no meu tempo os livros nem eram assim tão lindos como os de hoje, cheios de ilustrações maravilhosas e histórias bem escritas, mesmo assim para mim aquela época foi um marco decisivo em minha vida.

Não me canso de dizer o quanto sou feliz por ser bibliotecária, o quanto sou feliz por gostar de livros, de ler... Só tenho a agradecer.

Gostaria muito de poder ir um dia novamente à esta Biblioteca no Tatuapé, descobrir se ainda tenho cadastro lá (risos). 

Seria muito bom, matar esta saudade, mas enquanto esse dia não chega... Agradeço e abençoo este lugar que tanto alegrou minha infância: a Biblioteca Pública do Tatuapé, hoje Prof. Arnaldo Magalhães Giácomo.