segunda-feira, 4 de agosto de 2014

PARA UM MENINO, COM TODO MEU AMOR....

Tenho visto muitos posts no face comentando o ocorrido com o garoto que perdeu seu braço. Não sei se tenho este direito, mas senti vontade de escrever, venho pensado muito no que aconteceu, tenho filhos e não consigo nem imaginar o tamanho da dor que eles devem estar sentido...


As pessoas, falam, comentam, julgam, condenam sem saber direito o que estão falando, as informações vão surgindo como em uma cascata, mas sabemos que numa situação como esta, todos veem tudo enquanto é coisa, se aumenta, se inventa, acrescenta e se não estávamos lá para ver todos acontecimentos com nossos próprios olhos, como podemos tirar conclusões e fazer afirmações?

Eu já soube de tantas coisas difíceis que aconteceram com crianças, acidentes domésticos, acidentes escolares nos quais crianças foram machucadas, adultos passaram aperto, os pais susto, medo, coisas horríveis que aconteceram em piscar de olhos...

Há uns tempos houve a história de uma garotinha picada por uma cobra que ficou em coma e quase morreu, os pais a abandonaram para ser picada? Uma vez uma pessoa muito querida minha, deixou cair de cima da mesa um bebê pequeno com o moisés e tudo, caiu de cara no chão...

Ela quase morreu de susto, a criança bateu com força seu corpinho, chorou muito, poderia ter sido grave, mas graças a Deus os anjos protegeram e não aconteceu nada de maior gravidade... Essa pessoa foi negligente? E as crianças esquecidas dentro de carros? De quantas já ouvimos falar? Seus pais as esqueceram... Por que as amavam pouco? Não eram responsáveis? É fácil tirar conclusões, mas não deve ser nada fácil SER ELES.

Tenho um amigo que adorava, lembro-me dele dirigindo aos 13 anos, eu mesma andei de carona com ele ao volante, menor de idade e sem carteira de motorista... Seus pais permitiam e eu os conheci, convivi com eles... Eram pessoas maravilhosas, o amavam com loucura. Ele era um jovem impetuoso, bonito e cheio de vida, mas não tinha medo! Três meses após tirar sua habilitação morreu em um acidente. Numa história assim poderíamos facilmente dizer que os pais foram negligentes e que a culpa maior foi deles, não educaram! Mas será mesmo que foi? Eu não consigo pensar assim...

Não quero com meus escritos defender negligências, tão pouco minimizar a responsabilidade de quem estava a volta e também viu o que acontecia e não agiu como a situação pedia... Tem momentos em que parece que somos dopados, anestesiados... São os famosos "5 segundos de bobeira"...

Eu falo por mim, que me empenho 24 horas por dia para educar meus filhos e nem sempre consigo obter os resultados necessários, que sonho ou desejo! Isso não ocorre porque não me esforço, não faço minha parte ou não tenho responsabilidade e cuidado com eles, mas sim porque somos todos HUMANOS, cheios de DEFEITOS e as crianças de hoje não são mais como as de antigamente que só um olhar nos transformava em estátuas de sal... Hoje há dias em que você explica, fala, pede e mesmo assim o filho teima, teima e teima!

São tempos muito difíceis estes que vivemos e nós que temos um pé em um século passado e a vida em outro, muitas vezes nos encontramos perdidos em redemoinhos como este que aconteceu na vida deste pai.

O que quero dizer é que infelizmente este tipo de situação pode acontecer COM QUALQUER UM e nem sempre é porque as pessoas são irresponsáveis ou não cuidaram o suficiente do ente querido, ou foram inconsequentes, mas sim porque são situações que fazem parte do nosso destino, da nossa vida, não é questão de livre arbítrio, falta de comprometimento e responsabilidade, mas sim daquilo que temos traçado em nossa caminhada.

Às vezes são nas situações de extrema desgraça e infelicidade que o ser humano se transforma e muitas vezes a vida tem mostrado que a transformações mesmo que assustadoras, também vem para o bem, para o aprendizado para a evolução... O ser humano tende a se acomodar na zona de conforto e se acomodando não cresce, não aprende, não evolui, estagna.

Achei muito bonito da parte de uma mãe em uma reportagem que assisti em que contavam o acidente em que ela teve as duas pernas amputadas e ela lutava para superar as dificuldades e se recuperar, ao ser perguntada se não estava triste por ter perdido as pernas e não poder mais andar normalmente, ela respondeu: que perna, que nada! Eu estou feliz por estar viva e poder continuar junto dos meus filhos, da minha família!

Eu tive um amigo que teve paralisia infantil. Ele tinha inúmeros irmãos, moravam no Amazonas acho... Me contou que devido a quantidade de filhos eles acreditam que a mãe se atrapalhou e um dos irmãos tomou uma dose de vacina a mais e ele uma a menos... Acabou tendo pólio e teve a vida completamente mudada. Sua doença fez os pais se mobilizarem, saírem do meio do mato onde moravam e vieram para São Paulo em busca de melhores condições para ele viver. Com isso toda família mudou seu destino. Acho que talvez ele não pensasse desta forma, mas quando ele me contou sua história eu pensei: talvez... Talvez... Se nada tivesse acontecido com ele, a família toda teria ficado a vida inteira no fim do mundo e sabe-se lá o que poderia ter acontecido, pois muito progresso na vida deles, foi decorrente da doença do meu amigo que obrigou a família a migrar para uma cidade com condições melhores.

Ninguém que tem amor no coração, que é pai, mãe, quer o sofrimento de um filho! Ninguém quer! Queremos só amar, desejamos só o bem para nossos filhos. Muitas vezes na ânsia fazê-los felizes damos asas demais, outras vezes, por medo do que pode acontecer, impedimos seu voo, ceifando suas asas...

Atire a PRIMEIRA PEDRA, os que têm ou não filhos e têm certeza que nunca erraram e que nunca vão errar... Vão fazer sempre tudo certo e seus filhos serão perfeitos e educados.

A mim me dou somente o direito de orar e vibrar esperança e fé pelo amigo, pelo seu filho e sua mãe, espero que consigam superar a dor, espero que consigam transformar esta provação em suas vidas em algo extraordinário, em algo que veio não só para trazer tristezas e dor, mas sim em algo que aconteceu para abrir novos caminhos, novas possibilidades e novos horizontes e que não percam nunca o amor, a fé e a coragem que precisamos para prosseguir.

quarta-feira, 12 de março de 2014

12 de março: dia do Bibliotecário e da Biblioteca nossa de cada dia


            Sou Bibliotecária há dez anos destes, oito atuo em Biblioteca Pública. Desde a faculdade era o que desejava, porque tinha consciência da importância que este tipo de biblioteca tem para a comunidade onde está inserida. Sempre leio sobre a necessidade de modernização e ampliação do número de Bibliotecas Públicas no Brasil e estas questões me fazem pensar... 

Antes de chegar aqui, não tinha experiência alguma e o pouco que recebi foram informações muito negativas vindas de colegas que já atuavam nestas unidades e também dos próprios professores. Na época que estudei, a faculdade não dava muito ênfase aos conteúdos voltados para profissionais atuarem em Bibliotecas Públicas.

Mesmo assim meu ideal profissional prevaleceu e quis dar minha contribuição. Hoje após todos estes anos percebo que na realidade o problema não é a Biblioteca Pública em si, mas sim as pessoas ou setores que as conduzem dentro do sistema administrativo em que ela está inserida, o que quero dizer com isso? Que trabalhar em Biblioteca Pública pode ser sim muito bom! Na verdade precisamos de dois fatores somente para ter sucesso, muito simples, mas muito difíceis de alcançar: apoio e respeito.

Vejo que o poder público principalmente nas pequenas cidades (que são a maioria) não valoriza a Biblioteca Pública e faz muito pouco ou nada, para criar condições propicias que incentive o hábito da leitura na população. Não fosse o trabalho realizado pelas escolas e professoras aqui, por exemplo, se dependesse só da Biblioteca Pública haveria um cemitério de leitores.

Pelas experiências que vivi nos últimos anos e que acredito, sejam bem parecidas na maioria dos municípios brasileiros, penso que a única forma de tornar a Biblioteca Pública um setor realmente produtivo e relevante é dar autonomia legal para que ela desempenhe seu papel junto à sociedade. Tirar das mãos dos políticos e das prefeituras e dar para associações, grupos de pessoas interessadas juntamente com profissionais formados em biblioteconomia a autonomia para trabalhar, planejar e agir de acordo com demanda existente.

Criar leis que obriguem a destinação de verbas anuais de acordo com o tamanho da população e fazer com que os profissionais que atuam nestas bibliotecas simplesmente prestem contas exatas dos recursos utilizados e resultados alcançados. E assim, oferecer serviços informacionais de qualidade e realizar as atividades necessárias, sem estar constantemente “mãos estendidas” implorando.

No geral a rotina das Bibliotecas Públicas inclui: não ter verba oficial, não receber apoio para executar melhorias estruturais e físicas, não ter incentivo para projetos, não comprar livros, o que sempre existe são alguns poucos funcionários para atender os frequentadores e organizar o ambiente. Livros novos são poucos e quando são comprados, é com dinheiro de multas.

Sou Bibliotecária formada, concursada e atuo em uma Biblioteca Pública onde não tenho autonomia para fazer nada, não tenho direito a opinar, não sou ouvida, não sou consultada e fazem o que querem da Biblioteca Municipal, tenho de ver e ouvir passivamente tudo que decidem fazer sem poder intervir ou, evitar que falhas graves sejam cometidas.

Enquanto as Bibliotecas Públicas viverem sob o poder das administrações de visão restrita e limitada a interesses políticos, não haverá possibilidade de mudança da realidade em que elas estão inseridas e como sempre, o maior prejuízo fica para a sociedade. Não sei se a criação de leis que obriguem as prefeituras apoiarem, talvez tornar todas as Bibliotecas Públicas legalmente constituídas em órgãos federais, não sei se propiciar autonomia e ação de trabalho para os Bibliotecários pode mudar isso, mas o fato é que enquanto as Bibliotecas estiverem a mercê de política e administrações públicas, elas dificilmente sairão desta escuridão em que se encontram.

Só um exemplo: está para ser desativado onde trabalho um software de primeira linha, que conse­gui­mos com muito empenho adquirir e é de propriedade da Biblioteca. A informatização do acervo este ano entrou em fase final, pois há quatro anos trabalhamos com este sistema que é excelente e atende com eficiência as necessidades da biblioteca, dos leitores, mas enfim vai ser substituído.

Será desativado, por motivações externas que envolvem, além de outros fatores, o gasto de R$ 190,00 por mês que a prefeitura acredita ser desnecessário, haja vista que a atual empresa que ganhou a licitação possui um “módulo” para bibliotecas que pode ser utilizado ou seja, não há preocupação com o tra­balho executado até este ano, com o fato do novo software ser inferior, com os gastos feitos até o momento para o atual sistema funcionar (suporte e todo material utilizado nestes quatro anos), não há preocupação se haverá qualidade realmente nos serviços prestados. Com afirmações pouco consistentes, tentam nos convencer de uma mudança que não tem como ser positiva nem para a Biblioteca, tão pouco para os leitores.

Conclusão, de volta ao início: se o poder público deseja qualificar as Bibliotecas Públicas, criar novas, aumentar seus resultados e criar políticas de leitura, em primeiro lugar precisa fazer com que as Bibliotecas Públicas tenham seu valor, seus direitos reconhecidos e respeitados porque modernizar e multiplicar bi­bliotecas, formar profissionais para atuarem de forma eficiente e correta, mas que em seus ambien­tes de trabalho são obrigados a fazer e aceitar tudo que é errado, não nos ajuda em nada, só perpetra a situa­ção atual em que trabalhamos: à base de milagres e orações.

Sem apoio real, concreto e relevante, nada mudará. Espero com minhas palavras estar contribuindo de alguma forma e que o pequeno ponto de luz que eu teimo em manter acesso, apesar de todas as adversidades, possa se unir a vários outros e, fortes, ilu­minarmos a vida daqueles que precisam da luz do conhecimento. 


Sandra Küster, Bibliotecária por vocação há 10 anos