sexta-feira, 25 de maio de 2012

Eu sei...

Estou muito ausente... Tão ausente que nem para comemorar meus 40 anos escrevi. 

Não é falta de inspiração, é falta de vontade mesmo.

Tenho andado muito introspectiva, mas isso faz parte da vida. Há momentos em que é melhor calar mesmo. 

Afinal, falar o quê? E para quem quando temos a certeza de que ninguém nos ouvirá. 

Meu mundo hoje é um silêncio total. 

Melhor assim...

Hoje li dois textos que gostei muito, compartilho aqui:


O homem medíocre - José Ingenieiros

"O homem medíocre que se aventura nos torneios sociais tem um apetite urgente: o êxito. Não suspeita que exista outra coisa, a glória, ambicionada apenas pelos caráteres superiores. O êxito é um triunfo efêmero, pequeno; a glória é definitiva, não se altera com o passar dos séculos. Um é mendigado; a outra, conquistada.

É desprezível todo cortesão da mediocracia em que vive. Triunfa humilhando-se, arrastando, às escondidas, na sombra, disfarçado, escorando-se na cumplicidade de inumeráveis semelhantes. O homem de mérito se adianta a seu tempo, tem seu olhar posto em um ideal. Impõe-se dominando, iluminando, fustigando, em plena luz, sem máscaras, sem humilhar-se, alheio a todos os disfarces do servilismo e da intriga.

A popularidade tem seus perigos. Quando a multidão crava os olhos pela primeira vez em um homem e o aplaude, a luta começa. Pobre de quem se esquece de si mesmo para pensar apenas nos outros. É preciso colocar mais distantes a intenção e a esperança, resistindo às tentações do aplauso imediato. A glória é mais difícil, porém mais digna.

(…) O homem excelente pode ser reconhecido por ser capaz de renunciar a todo cargo que tenha como preço uma partícula de sua dignidade. O gênio se move em sua própria órbita, sem esperar sanções fictícias de ordem política, acadêmica ou mundana.

(…) Quem flutua na atmosfera como uma nuvem sustentada pelo vento da cumplicidade alheia, pode abocanhar pela adulação o que outros deveriam receber por suas aptidões. Mas quem obtém favores sem méritos não deve ficar tranquilo: fracassará depois de cem vezes, em cada mudança de vento. Os nobres criativos só confiam neles mesmos; lutam, livram-se dos obstáculos, se impõem. São próprios seus caminhos. Enquanto o medíocre se entrega ao erro coletivo que o arrasta, o superior vai contra ele com energias inesgotáveis até tornar clara sua rota."


Louco e Santos - Oscar Wilde
 
"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo,quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril."

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